sexta-feira, 24 de setembro de 2004

"A Estranha Aventura de Sinta" V

Chegámos ao fim destes posts intitulados "A Estranha Aventura de Sintra", da autoria de António Quadros. Não é demais elogiar mais uma vez este magnífico ensaio, que retrata tão bem a Vila de Sintra e arredores. É uma descrição exímia e muito bonita. Se alguém estiver interessado, eu posso enviar o texto na íntegra por mail.
Para a semana vou começar a publicar um outro texto da Literatura Portuguesa, também sobre Sintra, que considero mais uma pérola da nossa cultura escrita. Até lá... BOM FIM DE SEMANA! E... se puderem... vão até Sintra!

"A Estranha Aventura de Sinta" V

Tinha acabado de chover havia pouco tempo. As nuvens, opacas e cinzentas, afastavam-se pouco a pouco, levadas por uma breve aragem. Dum momento para o outro, o céu ficou descoberto e o azul invadiu a atmosfera, tal um sorriso súbito. Desprendia-se da terra um cheiro de ervas molhadas e de folhas a secarem. O sol chegou também, um sol fresco e alegre, e ficaram mais brancas as penas dos cisnes que, de novo, um a um, se lançavam à agua.
O Castelo e o Palácio, que antes se erguiam sombriamente, ficaram mais leves, mais claros, como se tivessem esquecido o passado e tornassem à vida. Do vale, as vozes e os ruídos do trabalho no campo ganharam sonoridades e ecos.
O canto dum rouxinol cresceu no silêncio, atravessou matas e penedos, e foi-se perder, para lá dos contornos da montanha.
Foi como uma revelação. A presença de qualquer coisa mais, a presença duma voz surda e irreal, a presença dum mundo diferente tornou-se-nos evidente e irrefutável. Mensagem invisível e impalpável, ela tocava-nos, todavia, e manifestava-se como sentimento nunca experimentado. Era a lembrança, a saudade da estranha aventura de Sintra, do promontório da lua.
Quem duvidar, quem zombar desta vida transcendente que a alimenta, então nunca poderá, realmente, entrar em Sintra.
FIM

António Quadros, in Panorama nºs 36 e 37 (1948)

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3 Comments:

At 11:33, Anonymous Anónimo said...

LUA, amiga, o prazo foi alargado até DOMINGO!!! Já não tens desciulpa para não participar... A mar e mar nas azenhas vou rimar e a maresia cheirar -- este é de borla! http://azelhasdomar.blogs.sapo.pt

 
At 11:34, Anonymous Anónimo said...

"Quem duvidar, quem zombar desta vida transcendente que a alimenta, então nunca poderá, realmente, entrar em Sintra." - Gostei muito deste ensaio. Onde o arranjaste? Um abraço. ( azenhas again)

 
At 13:06, Anonymous Anónimo said...

azenhas (re again)"Desci a falésia e deparei-me com o laranja do mar/O sol punha-se por trás de uma onda leve e macia,/Sentei-me numa rocha, senti a maresia no ar/E vi as Azenhas do Mar, e toda a sua magia..." e está lindo!!!

 

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