domingo, 24 de outubro de 2004

Ramalho Ortigão e "O Mistério da Estrada de Sintra"

Hoje comemora-se o nascimento de Ramalho Ortigão.
O escritor nasceu a 24 de Outubro de 1836.
Mas porquê falar dele aqui? Porque para além de inúmeros outros escritos, ele é um dos autores (o outro é Eça de Queiroz) de um emblemático romance da literatura portuguesa, "O Mistério da Estrada de Sintra". Mas desse "mistério" vamos falar adiante! Para já, apresento-vos - José Duarte Ramalho Ortigão!

José Duarte Ramalho Ortigão nasceu na cidade do Porto a 24 de Outubro de 1836 e distinguiu-se, essencialmente, como cronista e folhetinista. A sua infância foi passada no campo, tendo mais tarde, frequentado o curso de Direito em Coimbra, o qual não chegou a terminar. Foi professor de francês durante alguns anos, no Colégio da Lapa, no Porto, que era dirigido pelo seu pai, e onde teve como aluno o jovem Eça de Queiroz.
A partir de 1862 dedicou-se ao jornalismo. Fez crítica literária no Jornal do Porto e colaborou na Gazeta Literária e na Revista Contemporânea. Iniciou-se no jornalismo e na literatura no momento em que a segunda geração romântica (Camilo, Soares de Passos, etc...) dominava o panorama literário português. Participou na célebre Questão Coimbrã, com o texto Literatura de Hoje (1866), onde defendia António Feliciano de Castilho dos ataques que lhe dirigiam, atitude esta que lhe custou uma zanga com Antero de Quental.
Anos mais tarde, integra o grupo "Geração de 70". Recorrendo a um estilo irónico, Ramalho Ortigão pretendia aproximar Portugal das sociedades modernas de então. É nessa altura que escreve, em parceria com José Maria Eça de Queiroz, "O Mistério da Estrada de Sintra" (1871 - a primeira narrativa de cariz policial da literatura nacional) e as primeiras Farpas, onde se mostra um observador atento e crítico da vida portuguesa. No entanto Eça é nomeado cônsul em Havana (Cuba) e Ramalho continua sozinho a redacção das Farpas. Com Eça de Queiroz no estrangeiro, Ramalho aproxima-se de Teófilo Braga e com ele organiza as comemorações dos trezentos anos da morte de Luís de Camões.
Em 1870 é admitido como oficial da secretaria da Academia das Ciências e instala-se definitivamente em Lisboa, onde se dedica, paralelamente, ao jornalismo e à literatura. Vinte e cinco anos mais tarde é nomeado bibliotecário do Palácio da Ajuda.
Um outro aspecto literário em que se distinguiu foi o relato de viagens, deixando-nos algumas obras bastante interessantes. Apesar do seu prestígio, Ramalho Ortigão nunca igualou um Eça, ou um Antero, em termos de criação literária.
José Duarte Ramalho Ortigão faleceu em Lisboa, a 27 de Setembro de 1915, quinze anos depois de Eça de Queiroz ter falecido em Neully, França.

José Maria Eça de Queiroz

“O Mysterio da Estrada de Cintra”

Em meados de 1870, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, foram protagonistas de um episódio muito engraçado, e que viria a resultar num romance, mais propriamente, o primeiro de cariz policial da literatura portuguesa.
Pois bem! Eça de Queirós e Ramalho Ortigão decidiram assustar o país, com a história rocambolesca de um assassínio na Estrada de Sintra, às portas da capital.
Tendo como única inspiração a força da imaginação, iniciaram a escrita. Na véspera, combinavam por alto o desenrolar da história e depois enviavam o original, em forma de carta anónima, para o director do "Diário de Notícias", que – levado pelo insólito e gravidade da história - a publicava diariamente. As cartas foram publicadas, à medida que chegavam à redacção, entre 24 de Julho e 27 de Setembro de 1870.
Este "mistério" foi lido avidamente pelos leitores e conseguiu mesmo preocupar os lisboetas. Houve até leitores que acreditaram na história, e alguns até tinham medo de viajar para Sintra. A paranóia foi de tal modo que chegaram a fazer-se investigações policiais nos locais descritos.
Tudo se resolveu quando, ao fim de dois meses, os autores finalmente se identificaram, explicando que, afinal, tudo não passava de uma bela história romanceada e fruto da imaginação destes dois distintos escritores.
Em 1884, "O Mistério da Estrada de Sintra", foi editado em livro.

P.S. - A quem ainda não teve oportunidade de ler esta obra prima... eu recomendo vivamente!

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